Famílias Italianas
"Historia testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis" É a história a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, o arauto da antiguidade.
Esta página é dedicada às famílias italianas que povoaram a Vila de Ponte Alta, hoje Monsenhor Paulo. As condições na Itália “As principais razões que levaram um grande número de italianos a emigrar foram o crescimento populacional e o processo de unificação da Itália, associadas à pequena área territorial e a uma topografia muito acidentada que impedia a expansão da agricultura" “Os primeiros tempos do reino foram de adaptação às novas condições e fatores sócio-econômicos geraram uma grave crise, que atingiu todo o território. A população italiana, essencialmente rural, vivia em péssimas condições. A concentração das terras cultiváveis nas mãos de poucos proprietários, a introdução de modernas máquinas no campo e de novos métodos de produção nas cidades reduziu o número de empregos”. “Após a unificação, em 1870, pagavam-se impostos sobre quase tudo, até sobre os produtos que os agricultores cultivavam para seu próprio consumo e sobre os animais domésticos. A terra, pesadamente tributada, endividou os pequenos produtores, que perderam suas propriedades. A ganância do governo era tão grande que, em certas regiões, chegava-se a pagar até 31% sobre tudo o que era produzido”. “Com impostos elevados, os grandes agricultores ofereciam os produtos a preços inferiores aos de mercado. Empobrecidos, endividados e sem alternativa, os pequenos proprietários abandonavam suas terras e seguiam para as cidades, passando a conviver com novos problemas: desemprego, marginalidade, fome”. "A emigração passou a representar a única possibilidade de sobrevivência para essas pessoas e a válvula de escape para resolver seus problemas. O próprio governo italiano começou a incentivá-la: uma parte do povo precisava partir para que a outra parte pudesse sobreviver”. “A maioria dos imigrantes procedia do Norte da Itália - Vêneto, Lombardia, Trieste. Alguns entraram no Brasil com nacionalidade austríaca, apesar de serem etnicamente italianos". As condições no Brasil A proibição do tráfico de escravos (1850), a Lei do Ventre Livre (1871), a Lei dos Sexagenários (1885) e o crescimento da campanha pela abolição da escravatura, por volta de 1888, foram os principais fatores que desencadearam o estabelecimento de uma política voltada para a criação de alternativas para o trabalho escravo. Em 1840, o café começou a substituir o açúcar como principal produto de exportação e a necessidade de mão-de-obra para a lavoura do café aumentou, sobretudo no Estado de São Paulo, onde a mesma era constituída quase que somente por escravos. Várias medidas foram, então, adotadas pelo governo brasileiro para atrair os europeus, entre elas o direito de trazer imigrantes que, antes sob controle do governo imperial, passa a ser concedido aos estados. De onde partiram os italianos Grande parte dos italianos que emigraram para o Brasil era procedente do norte e do sul da Itália. Do norte veio o maior contingente, no período de 1876 a 1920 ( os Vênetos constituíam um terço do total). De 1876 a 1886, a primazia pertenceu ao Vêneto, ao Piemonte e à Lombardia. Essa três regiões forneceram. sozinhas, 65% do total de emigrantes nesse período. Entre 1887 a 1890, os vênetos continuaram em primeiro lugar, mas passaram a serem acompanhados também por italianos do sul: Campania, Basilicarta, Calabria e Sicília. Em número menor, vieram os habitantes da Itália central: Abruzzo, Molise, Lazio e Umbria. A VIAGEM(Extraído de: OS ITALIANOS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Autor: Luiz Serafim Derenzi). "Da antiga estação ferroviária de Gênova ao cais do porto, a distância média era de três quilômetros. Cada um ia carregando sua tralha, la leggiera, auxiliado por parentes ou amigos. O cais repleto, carregadores praguejantes, policiais, curiosos, marinheiros. O embarque é demorado. As passagens são coletivas, em bloco de famílias, de províncias. Conferência de passaportes. Cuidado com a bagagem de porão. Uma trapalhada enervante. Afinal o barco emite um ronco soturno. Bulcões de fumo encobrem o céu. É sinal de embarque. Os viajantes se precipitam para a ponte de acesso. Da amurada do navio os lenços sacodem nervosos as despedidas finais. Addio! Addio! Addio.” “Os corações se fecham numa saudade funda. Os marinheiros giram os cabrestantes. As âncoras emergem lentamente, o navio se afasta, a hélice revolve as águas em franjas de espuma branca”. “É a partida para a longa viagem do novo destino. Perdida a silhueta dos que ficaram, voltam-se para a paisagem das encostas abruptas que circundam a cidade. As lágrimas umedecem novamente os olhos e o coração se acelera quando frontejam o farol, a linterna, a última imagem da pátria que se distancia. O vozerio se amortece”. “Cada um procura sua couchette ao longo dos corredores dos porões. São compartimentos dormitórios coletivos com quatro, seis, oito, até dez leitos, apertados, sem conforto. As ondas se encrespam e o navio perde o equilíbrio. Sacode nos dois sentidos. Poucos conseguem ficar em pé. A maioria, principalmente crianças e mulheres, enjoam. A travessia do golfo de Leão é sempre penosa, mesmo hoje, para os grandes transatlânticos”. “Estabelece-se grande balbúrdia. São poucos os sanitários. Os espaços livres e os corredores mal iluminados tresandam a azedo. O tombadilho é agradável e distraído, para quem não precisa apoiar a cabeça”. “Da amurada se alivia fácil o estômago. Ar fresco, choques de ondas, barcas distantes, tripulação trançando em serviço, conversas, cantorias afastam os pensamentos amargos da despedida”. “Nos primeiros dias as refeições são toleráveis. Recipientes enormes, de cobre ou estanho, trazidos em vagonetas, em que a gordura sobrenada às iguarias. Cada comensal recebia um prato fundo de folha de flandres, colher e garfo, entrava em fila e era servido pelos despenseiros cujos aventais não incitavam o apetite. Repetir, só no final, depois de todos servidos, se houvesse sobra. Ao invés de pão, uma bolacha quadrada, galeta, dura como pedra. Nem mesa nem cadeiras. Bancos corridos. Um caneco de vinho e um naco de queijo rematavam o ágape. À medida que os dias se passavam a ração piorava”. “No arquipélago de Cabo Verde, na ilha de São Vicente, única parada para reabastecimento de carvão, água e víveres, os viajantes viram negros pela primeira vez. Trabalhavam em misteres portuários. Admiraram os negrinhos de dez a doze anos, nus, a mergulharem, trazendo, entre os dentes, a moeda que se atirava no mar”. “Um descanso de seis horas. A maioria saltava para sentir a terra firme”. “Depois a última etapa, mais longa e mais penosa. A passagem do Equador, um pouco de festa, música improvisada e vinho. Os passageiros, já descontraídos e habituados ao balanço do barco, se divertem”. “As sanfonas, as cançonetas, o baralho e a ladainha, também. Rezava-se muito a bordo. Missa aos domingos, ao ar livre. As noites, quando limpas da ameaça de tormentas, prendiam todos pelo deslumbramento do céu com novas estrelas. A noitada se prolongava até às tantas porque os porões perdiam progressivamente a habitabilidade. As mulheres tricotavam e teciam meias, os homens, no baralho, jogavam escopa, três-sete. E assim as quatro semanas de navegação se escoaram. A chegada ao porto foi saudada com alegria e admiração.”. Chegada ao Brasil Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, os imigrantes eram recebidos por fiscais do governo que os encaminhavam à Hospedaria das Flores, ou imediatamente os embarcavam em trens de ferro com destino à estação de Juiz de Fora,
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